…………… EDITORIAL ……………

Rev. Ang. de Agropecuária. 2020 Jul – Dez 1 (1): 1-6

Equipa Multidisciplinar Docentes e Investigadores da Universidade José Eduardo dos Santos (Angola)

 

RAAGROPEC: o nascimento da primeira revista científica angolana do campo agropecuário

RAAGROPEC: the bird of the first angolan scientific Journal of Agri-livestock field

Hemenegildo Osvaldo Chitumba1*, António Bartolomeu Alicerces Chivinda Eduardo2, André Mundombe Sinela3,

 

Palavras – Chave: revista, agropecuária, Angola

Keywords: jornal, agri-livestock, Angola

 

 

1-   Universidade José Eduardo dos Santos (Angola). Orcid: https://orcid.org/0000-0003-1905-137X

2-   Departamento de Sanidade Animal - Faculdade de Medicina Veterinária do Huambo - Universidade José Eduardo dos Santos (Angola). Orcid: https://orcid.org/0000-0002-7165-2634

3- Unicandra Agro-Industrial, SA (Angola). Orcid: https://orcid.org/0000-0001-8982-7431

* -  Autor correspondente. Chitumba16@gmail.com 

Doi: https://doi.org/10.5281/zenodo.4406612

 

         Achamos conveniente darmos início a este editorial com uma pergunta bastante pertinente: porquê investigar?

         São várias as motivações para o efeito, dado as características de um editorial, não seria suficiente para esgotar este assunto, no entanto, são objectivos da investigação científica a geração de conhecimento e a solução de problemas reais. Manterola & Otzen (2013), fazendo reflexão a esta pergunta afirmam que a motivação para investigação pode estar vinculada a aspectos de carácter pessoal, tais como, ter prestígio profissional, sentir-se bem, adquirir reconhecimento, para publicar, obter financiamento, viajar a congressos, passando por outras mais nobres como, crescer em nossa profissão, fortalecer uma disciplina, beneficiar a população, oferecer o melhor a nossos usuários, até algumas mais profundas e de significado muito técnico como, gerar conhecimento útil, fundamentar as nossas acções, evitar riscos , fundamentar as prioridades, ou influir na economia, dentre muitas outras.

         Neste âmbito, desde que começaram a ser publicadas no século XVII, as revistas científicas passaram a desempenhar importante papel no processo de comunicação da ciência, sendo por eminência, o veículo para divulgação e reprodução do saber.

         A História da publicação científica por meio de revistas, data desde 1665 com o surgimento das duas primeiras revistas científicas com dois meses de intervalo, o Journal des Savants na França e o Philosophical Transactions na Inglaterra. Importa referir também o surgimento do Litteratti de Italia em 1668 na Itália e a Miscellanea Curiosa em 1670 na Alemanha, não deixando de destacar o al Mercurio Volante no México em 1772 como a primeira revista médica de todo o continente americano. Desde então, as revistas cientificas têm desempenhado um papel primordial como o meio de comunicação da ciência(López Espinosa, 2000; Stumpf, 1996). Tais publicações originaram-se como parte das actividades das nascentes sociedades científicas constituídas na época e foram concebidas para dar lugar a comunicação especializada, substituindo de forma paulatina os livros impressos como meio de difusão científica predilecta na época, isto permitiu a organização da ciência moderna tal como hoje é conhecida.

         No início as revistas científicas tiveram como modelo os periódicos informativos, com o passar dos anos e o consequente aumento da produção científica, tornou-se mais frequente a modalidade de artigos e reportes breves de investigação, com a respectiva citação das referências bibliográficas, permitindo dar crédito aos autores, sua propriedade intelectual e a originalidade dos estudos (Price, 1973).

         O periódico francês Journal des Sçavans começou a ser publicado semanalmente em Paris, à 6 de Janeiro. Foi o primeiro a trazer informações regulares sobre a ciência em relatos e experimentos sobre física, química, anatomia e meteorologia. O Philosophical Transactions, da Royal Society of London, iniciou sua publicação à 6 de Março, sendo  considerado como o protótipo das revistas científicas. A periodicidade mensal logo alcançou 1200 exemplares, cuja subscrição era taxada em dez libras. As duas publicações ora referidas, serviram como modelos distintos para a literatura cientí­fica. A primeira influenciando o desenvolvimento das revistas dedicadas à ciência. A segunda tornou-se modelo das publicações das sociedades científicas, que durante o século XVIII surgiram em grande número na Europa (Stumpf, 1996).

         De acordo com McKIE (1979), o primeiro meio utilizado pelos cientistas para a transmissão de suas ideias foi a correspondência pessoal. Para relatar suas descobertas mais recentes eram enviadas cartas pelos homens de ciência a seus amigos (violando o princípio da ética desconhecido na altura), e circulavam entre pequenos grupos de interessados que as examinavam e discutiam criticamente. A divulgação era então direccionada, uma vez que seus autores quase que nunca as enviavam para aqueles que podiam refutar as suas teorias e/ou rejeitar seus experimentos.  Por serem muito pessoais, lentas para a divulgação de novas ideias e limitadas a um pequeno círculo de pessoas, estas não se constituíram como método ideal para a comunicação do facto científico e das teorias.

         A produção das revistas científicas no século XIX cresceu de forma considerável em função do aumento da produção científica a nível global e de investigadores, além dos avanços técnicos e científicos, facilitado pela fabricação do papel com polpa de madeira conforme referido por Merlo (2012). No século XX, não foi diferente o crescimento continuou acentuado tendo em conta que as revistas também passaram a ser publicadas por editores comerciais, pelo estado, universidades públicas e privadas, sociedades científicas e centros de investigação.

         Seguindo a tendência geral das ultimas décadas relacionada com o crescimento da produção científica, embora de forma bastante tímida, Angola tem dado sinais positivos apesar das dificuldades de várias índoles. Tal facto é o levantamento feito por Chitumba (2020), que quantificou as revistas científicas nacionais até ao mês de Dezembro de 2020. Este identificou 16 revistas científicas, um número bastante reduzido para um país com 18 províncias e com o número crescente de instituições de ensino.

         Dado o exposto, diante das dificuldades enfrentadas por estudantes, pesquisadores docentes, e público em geral na divulgação de suas pesquisas e inconformados com o número reduzido de meios de divulgação cientifica no pais, uma Equipa Multidisciplinar de Docentes e Investigadores Nacionais, coordenada por um docente da Universidade José Eduardo dos Santos, dá início ao processo de elaboração de uma linha editorial no campo agropecuário para ajudar a mitigar a  grande lacuna exis tente na área de investigação científica nacional, a Revista Angolana de Agropecuária adiante designada pela sigla RAAGROPEC, lançada no dia 20 de julho do ano 2020.

         É com muito agrado e satisfação que redigimos o presente editorial, dando a conhecer a comunidade científica e público em geral o lançamento do primeiro volume da RAAGROPEC. A revista dedicar-se-á na publicação de artigos científicos nos campos da Agricultura, Florestas, Medicina Veterinária e Zootecnia.

         Este primeiro volume foi dedicado exclusivamente para a publicação do presente editorial, que para nós não tem significado de mais um documento, mas sim, um marco histórico para a investigação científica em Angola. Sabemos de antemão que a caminhada é longa e cheia de percalços, portanto, com força de vontade e dedicação da equipa editorial, conseguiremos ultrapassá-las. Pensamos nós que está lançado o desafio para todos os estudantes, docentes, investigadores, leigos e comunidade em geral, para que tornemos a RAAGROPEC uma referência a nível do país, África e quiçá do mundo.

         É nosso desejo que a revista ofereça segurança e estímulo a todos que a acederem. É nosso desejo que ajude a construir parcerias fortes e de muito sucesso, pois, os resultados a serem conquistados serão um benefício para todos nós. Bem-haja, esperamos pelo seu manuscrito nos próximos volumes.

 

 

Referências bibliográficas

Chitumba, H. O. (2020). Listagem das revistas científicas angolanas.  Disponível em: http://revistasangolanas.online/index.php/listagem-das-revistas

López Espinosa, J. A. J. A. (2000). La primera revista médica de América. Acimed, 8(2), 133-139. Disponível em: http://scielo.sld.cu/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1024-94352000000200005

Manterola, C., & Otzen, T. J. I. J. O. M. (2013). Porqué investigar y cómo conducir una investigación. 31(4), 1498 - 504. Doi: http://dx.doi.org/10.4067/S0717-95022013000400056

McKIE, D. (1979). The Scientific Periodicals from 1665 to 1789. The Scientific Journal, 2.

Merlo, I. J. J. V. B. (2012). Das origens das revistas científicas ao Jornal Vascular Brasileiro. J. vasc. bras., 11(2), 93-94.  Doi: https://doi.org/10.1590/S1677-54492012000200002

Price, D. J. (1973). Hacia una ciencia de la ciencia. Barcelona: Ariel.

Stumpf, I. R. C. J. C. d. I. (1996). Passado e futuro das revistas científicas. Ciência Da Informação, 25(3). Disponível em: http://revista.ibict.br/ciinf/article/view/637

 

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